Cirurgia Pediátrica

Anomalia anorretal

Anomalia anorretal (AAR) ou ânus imperfurado, que consiste num amplo de defeitos do ânus e do reto, e que também pode envolver o trato urogenital. É comum e acomete 1 a cada 4.000 nascidos vivos. Sua causa ainda não está estabelecida cientificamente.

Pode haver a suspeita ainda no pré-natal, porém na maioria das vezes o diagnóstico é feito logo após o nascimento, por meio da avaliação clínica rotineira (Fig. 1). As crianças com suspeita ou com diagnóstico confirmado devem ser encaminhas de urgência para um centro de referência. Em todos os casos deve ser feito também precocemente uma ultrassonografia abdominal para se desacatar anomalias urológicas ou outras malformações intra-abdominais. Também convém que essas crianças sejam avaliadas pelo cardiologista pediátrico, para se desacatar cardiopatias.

 

Figura 1 – Menino com ausência de ânus

 

Há grande variação dos defeitos, sendo que no sexo masculino o mais comum é a presença do ânus imperfurado com o reto comunicando-se (fístula) com a uretra bulbar. Pode haver ainda ânus imperfurado com fístula do reto para a uretra prostática, para a bexiga e ainda para o períneo. Menos frequentemente pode haver ânus imperfurado sem fístula (Fig. 2). Usualmente os meninos apresentam-se com obstrução intestinal, e por isso, o abdome está distendido.

 

Anomalia anorretal - Clécio Piçarro
Anomalia anorretal - Clécio Piçarro

Figura 2. Tipos de AAR no sexo masculino: (A) fístula retoperineal; (B) fístula retouretral bulbar; (C) fístula retouretral prostática; (D) fístula retovesical; (E) sem fístula.

 

Já no sexo feminino os tipos de defeitos são diferentes. O mais comum é haver o ânus imperfurado com uma fístula para o vestíbulo genital (retovestibular). Ainda pode haver um defeito mais grave em que o reto, a uretra e a vagina terminam num único canal comum, denominado cloaca. Menos frequentemente pode haver a AAR sem fístula (Fig. 3).

Figura 4. Principais tipos de AAR no sexo feminino: (A) fístula retoperineal; (B) fístula retovestibular; (C) cloaca.

 

O tratamento num primeiro momento pode ser diferente, a depender do sexo e do tipo de defeito. No sexo masculino e com fístulas para a uretra ou bexiga, inicialmente deve-se fazer colostomia em dupla boca. Tardiamente, no momento oportuno, se realiza o tratamento definitivo, que consiste no abaixamento anorretal, como descrito por Peña. Se houver uma fístula para o períneo, pode-se realizar a correção definitiva nos primeiros dias de vida. 

Anomalia anorretal - Clécio Piçarro

Já na menina, caso se faça o diagnóstico de cloaca, também deve-se fazer inicialmente a colostomia, e o abaixamento pela técnica de Peña tardiamente. Já se houver AAR com fístula para o vestíbulo genital, e não houver obstrução intestinal, pode-se realizar a cirurgia definitiva mais tardiamente, porém sem realização de colostomia prévia. Isso também irá depender de outros detalhes técnicos e da rotina do serviço.

Invariavelmente essas crianças devem ser precocemente encaminhas para o centro de referência, para uma abordagem multidisciplinar. Caso haja a suspeita ainda no pré-natal, idealmente essas crianças devem já nascer no centro de referência. 

 

 

Bibliografia 

Bischoff A, Peña A. Anomalia anorretal. In: Piçarro C. (editor). Fundamentos em Cirurgia Pediátrica. Editora Manole: Santana de Parnaíba, 2021. P: 275-285.

Anomalia anorretal - Clécio Piçarro

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